Havia alguma coisa no sorriso dela que o deixava encantado. Nunca havia pensado sobre isso, mas tinha certeza que era no sorriso. E era uma certeza grande, que vinha de dentro e dizia: seja lá o que for, está no sorriso. Maurício realmente não sabia o que era, mas se tornava tão óbvio quando ela entrava na sala. Nunca havia dirigido a ela uma única sílaba, mas a impressão que tinha era de que já haviam passado eternas tardes entregues às mais discretas confissões.
Se no início fazia aquilo pela necessidade do dinheiro, hoje faria até de graça, só pelo prazer de vê-la sorrindo nas quintas-feiras. O sorriso. Todo o encanto se resumia no tal sorriso.
Laís, dezessete anos e cursando o ensino médio. Era só o que sabia. O semestre já estava no fim, a havia visto todas as semanas durante seis meses e nem ao menos uma palavra. De qualquer forma, seria errado demais. Convidá-la para um jantar, ou até mesmo o mais singelo café. Qualquer convite, qualquer elogio, qualquer troca de olhares seria errado.
Tentou se conformar em vê-la pela última vez. Chamou o último aluno marcado na caderneta e entregou o teste para ele. Todos haviam sido aprovados. Nada melhor para um professor do que saber que todos os alunos de seu curso haviam aprendido a matéria. Com calma, Maurício se levantou, apagou as anotações feitas no quadro e se dirigiu para a turma:
- All right, guys. Congratulations to all of you. Good luck and enjoy your vacations!
A felicidade na classe era geral. As risadas e a alegria de terem concluído o curso. Maurício observou os alunos recolhendo os livros e saindo da sala, alguns o cumprimentavam, outros agradeciam. Laís não. Laís passou reto, rindo e conversando com as amigas. Ah, o sorriso. Percebeu então que jamais o veria de novo. Sentiu um aperto no coração. Queria chamá-la, queria agir. Fazer qualquer coisa para impedir que aquilo acabasse. No fundo, sabia que Laís era apenas um sonho. Sabia que ela era apenas a personificação daquilo que ele mais desejava em uma mulher. Ele sabia, mas não conseguia aceitar. Sabia que ela, provavelmente, era como todas as outras garotas de dezessete: imatura, impulsiva, ciumenta. Sabia que ela não era nada daquilo que imaginava. Talvez Laís nem gostasse de café. Maurício olhou para a porta e viu Laís indo embora. E junto com ela ia embora o sorriso, a curiosidade, o encanto. O sonho indo embora, para sempre.
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Um comentário:
O texto em sí é lindo, mas a encenação ficou simplesmente emocionante! Estou loca para saber do curta!
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