17.4.10



Tem dias, como hoje, que acordo desejando ser um romântico. Acordo querendo entender Neruda e os teus olhos azuis.
Porque você sabe, Lê, ontem dormi pensando em ti. Caí no sono com teu retrato no meu colo, tua imagem estática sorrindo pra mim um sorriso congelado e sem paixão, tão diferente daquele com o qual eu havia me acostumado. Sonhei com teus braços, abraços e beijos. Sonhei com a tua mão sobre meu peito, com as nossas partidas de xadrez. Sonhei que assistia contigo o novo filme do Woody Allen. Sonhei com nossos dedos entrelaçados, com os quadros do Renoir e com aquela sinfonia - sinfonia? - do Vivaldi. Sonhei contigo e com o nosso amor.
Acordei, então, desejando ser um romântico. Acordei desejando ter valorizado todos os nossos momentos lindos quando tive a oportunidade, ter sussurrado poesias no teu ouvido ao amanhecer, ter lido todos os livros que você me indicava, ter escrito cartas de amor e serenatas.
Porque, quem sabe, Lê, quem sabe, se eu tivesse feito tudo isso, se eu tivesse sido o namorado culto e elegante que você tanto almejava, quem sabe se eu fosse um romântico e entendesse Neruda, aí, Letícia, quem sabe, talvez você não tivesse dado praquele poeta-metido-a-cantor. Sua puta.

2 comentários:

Jubi disse...

WOOOW, adorei

Jeferson Cardoso disse...

Olá Lucy! Esta semana estou divulgando uma “nova” postagem. Trata-se de um conto; que na verdade vem a ser uma reedição de meu blog. Sua postagem original ocorreu em 13.02.09; sendo esta a minha terceira postagem no blog. Naquela ocasião este texto não recebeu nenhum comentário. O texto é “O Sr. e o Dr.”. Espero que você, tendo um tempinho, o aprecie.
Um grande abraço, minha gratidão e desejo que tenha uma ótima semana!

Jefhcardoso

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