com qual finalidade nos esgotamos em congestionamentos, ônibus lotados, em um corre-corre diário inconsciente e, na maior parte do tempo, alheio a qualquer planejamento futuro? seria felicidade uma sensação tão permeada por prazer quanto por efemeridade? ser feliz. estar feliz. é realmente esse o motivo que nos leva a vivenciar dia após dia, ônibus após ônibus - a simples busca por um momento passageiro, instantâneo e imprevisível de prazer? um momento que é tão certo e previsível quanto a queda de uma maçã sobre nossas cabeças (em São Paulo)? será que nos empanturramos de livros e autores e músicas e novelas e imagens,imagens,imagens todo o tempo toda a hora imersos, afogados por esse mar de referências e de vida levados ao extremo do autocontrole, sobrevivendo a tudo, simplesmente para não nos afogarmos? será que caminhamos para o trabalho todos os dias só para correr o risco de chegar um dia em casa e dançar abraçados uma música qualquer enquanto o o refrão entoa que o amor é uma coisinha miúda e louca? todas as horas gastas, rasgadas num cotidiano que insistimos em chamar de vida e de tentar encontrar um propósito maior são em função desse fetiche-felicidade. para subir a lomba em direção à porta da casa com aquela sensação de quem re-descobriu a arte de escrever e ao vomitar as palavras percebe que nada tem de arte, que é tudo um aborrotado de palavras soltas e superficiais, desprendidas de qualquer metodologia científica e , pior ainda, de qualquer poesia? que a cada dia os momentos de se estar feliz são mais raros e que se tem a certeza de que quando vierem não durarão mais do que uma canção do freddie mercury? e que ela não é real - quanto menos compartilhada? e que, no final, o fiapo de esperança ao qual nos agarramos com os dentes é aquele no qual vem escrito a possibilidade de termos a sorte de morrer enquanto nossa mente está em um desses lócus espirituais e talvez assim pudéssemos ser felizes para sempre? e que, ao perceber o quão irracional é alguém se suicidar justamente quando se está feliz, abandonamos nossa tese, desligamos o rádio e voltamos para o mundo real.
17.5.11
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