2.1.12

01012012



você acredita em Deus, menina? você tem fé? você acha que ele a escuta quando está ajoelhada em frente a Maria, os joelhos doloridos rasgando a bancada de madeira e as lágrimas escorrendo pelas bochechas pálidas? e quando você está sozinha à noite com os lençóis cobrindo-lhe as orelhas, a mesma criança indefesa de sempre? tem Alguém lá? pra quem vão todas estas preces, minha menina? e quando abre teu coração e expõe pro mundo teus desejos mais fortes, alguém vai realizá-los neste Natal? e  o Cristo, todo iluminado? logo você, menina, aquela que não cruza nem as linhas vermelhas grudadas no chão demarcando o limite entre o espaço tangível e uma obra de arte. por que o Senhor o colocaria tão distante? é isso um desafio, meu Senhor? estás me testando, Deus? é para ver se sou atrevida ou corajosa? ou é só uma provocação? como que jogando na minha cara que quando as minhas preces são atendidas eu não tenho a bravura necessária para estender a mão, dar dois passos e conquistá-las. e esses centímetros que se transformam em milhares de kilometros, os mares rindo de mim, por ser uma criança que chora quando vê os fogos de artifício mas que não brinca com o presente tão desejado no Natal. e se eu quebrar ele, Papai do Céu? você vai me dar outro? e se a minha indecisão me impede de abocanhar meus desejos quando estes se concretizam? e quando todas as suas emoções se esfacelam em milhões de pedaços, feito vidro moído entre os dedos do pé, e ninguém, ninguém te explica por que aquele amor de tanto tempo não foi correspondido. por que, Deus? por que ele não me quer? o que eu fiz de errado? o que eu tenho de errado? e por que ele decide virar o rosto na minha direção exatamente quando eu abro mão de toda essa fantasia e das sensações tão, tão reais causadas pela simples... imaginação? como pode um amor não vivido ter me feito sentir tudo tão de verdade? o frio na barriga, as pernas tremendo e nó na boca do esôfago quando se tenta desdobrar as razões daquele leve desprezo. e então eu me ajoelho na capela e rezo por que é só o que me resta, não é? é o que resta para toda essa humanidade podre e desacreditada quando se vê diante de nenhuma outra possibilidade e a esperança escassa e os muros engrossando ao seu redor acabando com o oxigênio e então se ajoelha e reza. é a fé que me salva, Senhor. a fé cega, a capacidade de pedir de implorar por alguém que simplesmente seja. que seja bom. que seja disposto. ele é. meu novo amor é. só. sem mas. sem vírgula. sem flows. e quando você me dá ele de presente, meu Deus, quando você finalmente resolve atender ao lamurio desesperado de uma fiel sem outras opções, você resolve que todo pedido, que toda caminhada no deserto deve vir acompanhada da provação e da tentação, só pra que eu fique indecisa e me arrependa de ter orado? por quê?

pois saiba, meu Deus, que eu não me arrependo nem um segundo da minha fé. não me arrependo daquilo que eu quero. e nesse ano o que eu quero é a realidade.






Um comentário:

Marcos disse...

Foi por realidade. Tudo o que fiz.

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