6.5.13

rome

menino, você me faz ter vontade de ser maria. vontade essa que não sentia faz tempo. você já reparou que roma, de trás pra frente, é amor? meu coração é sofrido, ele vem se curando com o tempo. é um coração de quem vive com muita intensidade, de quem sofre e chora um mar de lágrimas e lamenta o fim de um amor. meu coração é vasto e aberto, mas machucado. é um coração de quem já sonhou muito, mas que aos poucos foi cansando e deixando o mundo dos sonhos de lado. aprendi a conviver com a materialidade e a sentir prazer no processo cotidiano da produção. a literatura me escorreu pelos dedos e saiu de vista, ficou perdida entre as estantes e os trabalhos de economia. o cinema, antes atividade rotineira, virou raridade. a música que me acordava pra vida só me traz lembranças tristes de momentos amargurados que fircaram pra trás. mas meu coração também é jovem, menino. e ele se recupera com a mesma força que se fere. você me faz ter vontade de ser eu de novo. o eu de antes, o eu que acreditava. o eu que tinha vontade de viajar o mundo, de dançar de olhos fechados e braços abertos, o eu que vai acordar um domingo de manhã e bater na porta da tua casa com um sorriso, um pão e uma garrafa de vinho e fugir pra longe. o eu que vira a noite lendo um livro de literatura e passa o resto do dia pensando nele. o eu que sonha e que imagina e que escreve. e você me faz imaginar ser maria. seria maria do teu lado, se você quisesse ser joão, que nem naquela história de tempos atrás, a dos dedos sujos de terra. mas eu te conheço tão pouco, menino joão. na verdade, não te conheço em nada, mas o que importa não é isso: o que importa é a vontade de te conhecer. vontade ativa, que me impele pra frente na tua direção, que me faz querer compartilhar e entender. não é que enxergue em ti a salvação, mas revejo um pedaço de mim mesma há tempos esquecidos. e dessa vez vou agarrá-lo de volta e não vou deixar-se ir. talvez você passe, joão, que nem o frio do primeiro dia de inverno passa. mas esse reencontro que tive, esse vai ficar pra sempre. e se você quiser ficar por um tempo, pra conhecer o outro eu, o eu-eu, o convite está feito. o que vier depois já não é nosso, não nos preocupemos com o devir. mas se atenha no ser, no hoje, na vontade, na volta da intensidade. e pense em roma, pense no amor.


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