19.3.09

Acontece que o tempo passa. Eu sei, uma constatação um tanto quanto óbvia, mas acontece. O tempo passa e a gente vai percebendo coisas.
A gente percebe que a vida não é feita de momentos. A vida é feita de pessoas, de sentimentos, de abraços, de pesamentos, de palavras, de gestos. A vida é feita de exceções. E enquanto a vida vai acontecendo a gente vai se dando conta de outras coisas tão óbvias quanto essa efemeridade toda.
A gente percebe que os dias coloridos não são perfeitos, mas são reais. A gente percebe que pessoas e vêm e vão e só nos resta aceitar isso, sentir a tristeza na hora da partida e a felicidade quando elas retornam; e que se elas não retornarem sempre teremos as boas lembranças guardadas em algum lugar, e que as más, essas o tempo cuida de levar embora. A gente se dá conta de que substituir amores e amigos simplesmente não funciona. Que o carinho de alguém não cura as feridas de outro; que às vezes o abraço não vem da pessoa desejada, mas mesmo assim é um abraço. A gente aprende a fechar a janela pras tempestades e deixar entrar somente os pingos de chuva que não vão destruir a mobília da nossa casa. A gente percebe que algumas músicas perdem o significado conforme perdemos algumas pessoas; e percebe também que outras músicas não perdem o significado nunca, por mais que a gente queira. A gente percebe que ninguém no mundo é tão importante quanto nós mesmos, mas que algumas pessoas ficam quase lá. Que viver no limite é bom só de vez em quando e que a calmaria não é tão sem intensidade quanto parece. A gente aprende que não dá pra usar o delete em cima de palavras. A gente percebe que às vezes somos cruéis com quem merece o nosso amor mais digno e que quase sempre entregamos essa dignidade pra quem é pura crueldade. A gente percebe que alguns amores surgem por força do destino e, às vezes, pela ausência dela, e nem por isso são menos especiais. A gente percebe que a vida é feita de exceções, e que a maior exceção da qual ela poderia ser feita é a não exceção.
Acontece que o tempo passa, e que a única coisa que importa é chegar no fim e, entre certezas e arrependimentos, conseguir sorrir e perceber que a vida em si é uma enorme e clichê exceção.

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