16.10.14

there's nothing wrong with me

(não tem nada de errado comigo)

não tem nada de errado com meu corpo. meu cabelo não é estranho, minha boca não é grande demais e meus olhos não são menos bonitos só porque não são simétricos. não tem nada de errado com meus seios, minha barriga, minhas coxas, meu cotovelo, meus braços. não tem nada de errado com meus pés, com a unha do mindinho, ou com meu calcanhar. meus pelos não são feios, meus dentes não são feios, minhas unhas não são feias. nenhuma delas.

quantas vezes a gente já se olhou no espelho e se perguntou "o que tem de errado comigo?". eu me olho todos os dias, aperto a minha barriga e prendo a respiração levanto os ombros mas a pergunta continua ali, o que tem de errado comigo? por que meu corpo não é semelhante aos corpos que vejo na internet? nos vídeos sensuais? nos filmes? e isso é o que acontece comigo nos dias bons. em que eu me olho, não me agrado, e saio para fazer exercícios físicos. já foi muito pior. já tiveram dias em que "nenhuma roupa servia". em que eu chorava até soluçar na frente do espelho. em que eu batia e amassava as minhas coxas até doer de raiva por elas serem "grandes demais". já teve vezes que eu não saí pra me divertir com meus amigos por me sentir intimidada e constrangida. por me sentir feia. por me sentir gorda. por me sentir errada.

mas essa é só minha experiência pessoal. o que eu descobri - e não faz muito tempo - é que ela não é só minha. e que muitas e muitos de nós encaram sentimentos de frustração e descontentamento com o próprio corpo muito semelhantes. meu cabelo é escuro demais. meu cabelo não tem brilho. meu cabelo é muito volumoso. meu cabelo é pouco volumoso. minhas bochechas são grandes e eu pareço um buldog. minhas orelhas são grandes demais e eu pareço um elefante. meu nariz é grande demais. meus dentes são amarelos demais. meus dentes são separados demais. ou juntos demais. eu tenho pouco peito. meus peitos são caídos. sou muito gorda. meus braços são gordos. sou esquelética e pareço doente. não tenho corpo de mulher. não tenho bunda. tenho mais celulite do que bunda. minhas coxas são desproporcionais ao resto do meu corpo. minhas pernas parecem dois pedaços de taquara. meus pés são muito grandes. meus pés são ossudos. minhas unhas são tortas. tenho muitas cutículas. meu joelho é gordo (!). e incontáveis infinitas outras.

menina. eu tenho que te dizer uma coisa. algo que eu digo pra mim mesma todos os dias, várias vezes por dia. não tem nada de errado com você. não tem nada de errado comigo também. e com nenhuma das suas amigas. por alguma razão - ou várias razões - nós não gostamos dos nossos corpos. nossos corpos nos deixam envergonhadas, constrangidas. a gente se olha nas fotos e elas nunca estão boas. inventamos um ideal de beleza no nosso imaginário (individual e, creio eu, coletivo) e a partir daí nos engatamos numa espiral decrescente de auto-estima, auto-confiança e prazer. acreditamos sempre que há algo de errado com nosso corpo. nossa percepção distorcida de nós mesmas às vezes, inclusive, transborda pra outras esferas da nossa vida: achamos que há algo de errado com a gente por inteiro. de repente não somos legais o bastante. não somos divertidas. não somos competentes. não somos inteligentes. não somos atraentes. não somos dignas de ser amadas. e todas essas barreiras crescem e engrossam com o passar do tempo. atiramos nosso sucesso para o futuro. vou fazer uma dieta e quando eu emagrecer, vou entrar naquele vestido. vou me inscrever numa academia e quando eu for gostosa vou arranjar alguém que queira ficar comigo. e de futuro em futuro não vivemos o presente, porque o ideal é uma utopia e, por definição, inatingível. o ideal nunca chega no presente. e sempre vai ter algo de errado comigo. sempre vai ter algo de errado com a gente.

pois bem. esse é o contexto, e vou ser sincera com vocês: ele vem me incomodando já faz algum tempo. e agora, ele começou a incomodar o meu namoro. os momentos bons e alegres que eu compartilhava com a pessoa que eu amo viraram lapsos de tempo tristes em que eu não consigo amar a mim mesma e, por consequência, não consigo amar aos outros. e eu sei que isso é só a ponta do iceberg. e diversas outras frustrações derivam daí: o nervosismo na hora de apresentar um trabalho. achar que nada que eu escreva ou faça é bom o bastante a nível profissional. e eu decidi que chegou a hora de mudar. agora, no presente.

e quando eu digo mudar, eu não quero dizer fazer um planejamento de dieta e exercícios físicos pra 2014. eu não quero dizer cortar a sobremesa do cardápio. eu não quero dizer fazer depilação definitiva. eu vou mudar minha consciência. e vou me amar. incondicionalmente. e convido vocês a virem comigo.

minha proposta é essa: a cada semana eu vou fotografar e publicar uma foto (ou um vídeo, ou outras formas de representação) de algo que eu não amo em mim mesma. e eu convido vocês todas e todos a fazerem o mesmo. textos e legendas acompanhando as representações são sempre bem vindos. vamos transcender qualquer tipo de barreira que nos impeça de alcançar a nossa plenitude e vamos fazer isso agora. vamos nos amar integralmente. enviem suas contribuições para esse tumblr e elas serão compartilhadas. não tem nada de errada conosco.

obs: a todos os leitores, gostaria de esclarecer que escrevi a maior parte do texto utilizando o feminino. isso acontece no sentido de que escrever, pessoalmente, é como dialogar comigo mesma e me sinto mais confortável fazendo isso usando o feminino. no entanto, o convite que faço é a todos (todxs), independentemente das infinitas possibilidades de gênero. independentemente de qualquer coisa. muito obrigada.

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